“visões de maria” + “e nem tambor” + “imperativos” by Alírio Karina


maria sublima, devém gigante de gás sobre
vitrais espremedores de limão, devém galáxia
de formaldeído estendendo-se para a próxima
paróquia—brilhante como manchas de vinho no
banco da igreja—; coagula, devém hinário (de
tendão e nervo e de corte), devém lábio
rachado, devém chicotada, devém o preto-sangue
do sapato de domingo; evapora, devém luz solar,
devém ave—de joelhos machucados aos ouvidos
de deus—devém canto de pássaros, devém frente
fria, devém salvamento por tempestade; devasta,
devém chave menor, devém piedade, devém o perdido
esquecido.
——
maria sublimates, becomes gas giant under
lemon juicer glass, becomes formaldehyde
galaxy extending into the next parish—
bright as the wine stains on the pew—;
coagulates, becomes hymnal (of sinew and
nerve and of cut), becomes burst lip, becomes
whiplash, becomes the blood-black sunday
shoe; evaporates, becomes sunlight, becomes
ave—from bruised knees to god’s ear—becomes
birdsong, becomes cold front, becomes
deliverance by storm; devastates, becomes
minor key, becomes piety, becomes the lost
forgotten.
e nem tambor
segundo josé craveirinha
diga-me, é possível aprender
ritmo à distancia? ouvir o seu
chuvendo tremulante, seu gritado
saber? é possível ter lar antes
que dança, íntimo antes que próximo?
diga-me, é possível andar com o
desespero, agarrados como melhores
e mais velhos inimigos, atados ao
horizonte, à vontade nos seus pesos?
e se eu perder o tambor, se eu nele
encontrar só o pulsante desconhecido,
me diz, é possível ter rio, mato,
selva, mar, terra onde deseperar?
imperativos / imperatives
encontrar carinho sem nausea, lembrar o viver sem
desencontrar a terra, perder—não abandonar—o
romance, demorar fora do caminho, luxuriar e
manter amizades—incutir. um cansado sem
distância, um parente sem desgastado, espaço por ser
sem ter de o.
——
to find care without nausea, to remember living
without mislaying the earth, to lose—not jettison—
romance, to linger out of the way, to lust and
keep friendships—to kindle. a tired without
distance, a kin without weary, space for being
without needing to.
alírio karina is a mozambican poet. their first chapbook, desejos e desamarros / desires and discards, is forthcoming from econo textual objects. their work has been published in kenyon review, jornal relevO, blind field journal and crab fat magazine. alírio’s poetry examines queer life and colonial remains.
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